Plataforma do Ceweb.br avalia a acessibilidade digital em mais de 300 mil página web do governo brasileiro. Ao todo, 504 sítios e mais de 316 mil páginas já foram analisadas.
Desrespeitar os padrões web como não oferecer textos alternativos às imagens, não utilizar corretamente níveis de cabeçalho e deixar de fornecer formas de saltar conteúdo repetido são algumas das barreiras de acesso mais frequentes nos sítios governamentais brasileiros. A conclusão é de um levantamento efetuado via plataforma TIC Web Acessibilidade, que analisou 504 sítios, totalizando 316.791 páginas até maio de 2022. A ferramenta do Centro de Estudos sobre Tecnologias Web (Ceweb.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), elaborada com o apoio técnico do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (DCC/UFMG), avalia o nível de conformidade dos sítios sob o domínio gov . br com o Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (eMAG), que norteia o desenvolvimento de conteúdos digitais desses sítios para poderem ser acessados por pessoas com deficiência, sem barreiras de acesso.
“Das páginas que temos hoje na plataforma, apenas 2.445 páginas atingiram o nível de conformidade entre 95% e 100%. Significa dizer que menos de 1% delas tiveram poucos erros, ou nenhum. Do total analisado, apenas uma página não apresentou nenhum erro”, afirma Reinaldo Ferraz, especialista em desenvolvimento Web do Ceweb.br|NIC.br, enfatizando que websites na faixa de conformidade mais elevada são um bom indicador, mas que isso não é o suficiente para serem considerados totalmente acessíveis.
Vagner Diniz, gerente do Ceweb.br|NIC.br, esclarece a importância de observar a conformidade com essas recomendações. “Isso permite que os navegadores e as “tecnologias assistivas” como leitores de tela, interpretem corretamente o código da página. Quando os padrões são desrespeitados, alguns usuários de navegadores não convencionais ou de tecnologias de apoio podem ter problemas na exibição do conteúdo, como sobreposição de texto e design quebrado, e até conteúdo que não é exibido em tela”.
“Devemos considerar também os testes manuais. Existem critérios que ainda não podem ser avaliados por máquinas, como se o texto alternativo de uma imagem é compatível com o que é exibido no sítio, por exemplo. O que estamos avaliando nesse levantamento é a conformidade com os padrões técnicos de acessibilidade previamente estipulados pelo próprio governo federal”, pontua Ferraz.
Nem todos os sítios analisados, no entanto, apresentaram um número alto de erros. “Pouco mais de 21% deles têm, em média, menos de 20 erros por página, enquanto cerca de 15% estão na lista dos que acumulam mais de 100 por página”, complementa Ferraz.
Falha mais comum
O desrespeito aos padrões é o erro mais comum, presente em 99% das páginas avaliadas pela plataforma. Isso significa que os sítios não seguem corretamente as regras da linguagem de marcação para a criação de páginas (HTML). Essas orientações são desenvolvidas pelo W3C (World Wide Web Consortium), consórcio internacional que desenvolve os padrões técnicos para a construção de sites.
Erros de marcação
A não utilização correta dos níveis de cabeçalho também está entre os erros mais recorrentes. Segundo orienta o eMAG, os níveis de cabeçalho devem ser usados de forma hierárquica, pois organizam a ordem de importância e de subordinação dos conteúdos facilitando a leitura e compreensão, o que é especialmente importante no caso de pessoas com deficiência visual, já que muitos leitores de tela se valem dessa hierarquia, pulando de um cabeçalho para outro, agilizando, assim, a navegação.
Não fornecer âncoras para saltar o conteúdo repetido é outro erro de marcação HTML frequente. “Sem esse recurso, pessoas que usam leitores de tela ou navegam por teclado terão de passar por toda a página para alcançar um ponto específico. Imagine-se tentando chegar a um link no meio da página, sem usar o mouse, somente usando a tecla ‘tab’: talvez seja necessário apertá-la mais de 50 vezes até chegar lá. Isso leva tempo e prejudica bastante a experiência”, comenta Ferraz.
Sem barreiras
O artigo 63 da Lei Brasileira de Inclusão, também conhecida como o Estatuto da Pessoa com Deficiência, estabelece que é obrigatória a acessibilidade nos sítios da Internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no país, ou por órgãos de governo. “A plataforma do Ceweb.br|NIC.br tem papel relevante ao conferir mais transparência à questão, já que com ela, qualquer cidadão pode os verificar se os padrões de acessibilidade exigidos pela lei estão sendo cumpridos”, reforça o gerente do Ceweb.br.
A ideia é que a plataforma tenha um ciclo constante de atualizações, expandindo sua base de coleta de dados de modo a se ter um quadro cada vez mais fiel. “Além de adicionar outros sítiosperiodicamente, pretendemos em breve revisitar aqueles que sofrerem alguma categoria de atualização, observando se as barreiras de acesso identificadas foram superadas ou não. Só teremos uma Web verdadeiramente inclusiva, quando ninguém for deixado de lado”, finaliza Vagner Diniz.
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